Na apresentação do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção, a entidade compartilhou resultados e perspectivas para o setor
A Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) apresentou a 17ª edição do Estudo Tendências no Mercado da Construção, no dia 1° de dezembro, sob a coordenação do consultor da entidade, Mário Miranda.
Na oportunidade, foi apresentado o comparativo de vendas de máquinas da linha amarela (movimentação de terra) entre 2021 e 2022 , considerando as vendas concretizadas até novembro, além da previsão para o mercado em 2023.
Com resultados animadores, a maior parte dos equipamentos da linha amarela registrou aumento nas vendas. Segundo Miranda, depois de um ano problemático, houve estabilização da cadeia de suprimentos de peças e componentes para equipamentos de grande porte. De acordo com ele, a maior parte dos fabricantes já conseguiu equilibrar a relação entre a oferta e a demanda. Por último, o consultor apontou que os revendedores estão trabalhando com backlog de um a dois meses.
O objetivo do estudo da Sobratema é fornecer, anualmente, um panorama consistente sobre o mercado brasileiro de equipamentos, baseado em pesquisas e análises econômicas setoriais. A coleta de dados é feita através da visão das construtoras e locadoras, dos fabricantes e dos distribuidores. Além disso, são contabilizadas as informações de fontes externas como ABIMAQ, ANFAVEA, ANFIR, CECE e SNIC e do grupo de apoio da entidade.
De acordo com os dados obtidos, para 91% das fontes, a demanda real de equipamentos em 2022 foi igual ou maior que o esperado. Para 83% dos entrevistados, o volume de negócios gerado para as empresas entre janeiro e setembro de 2022 foi melhor ou muito melhor que o esperado. O mercado de máquinas e equipamentos foi considerado melhor ou melhorando muito para 69% dos entrevistados.
Para o presidente da Sobratema, Afonso Mamede, o ano de 2022 entra para a história do mercado de máquinas da linha amarela (movimentação de terra) ao consolidar a recuperação do setor, batendo recorde de vendas.
A Sobratema prevê 39,9 mil unidades comercializadas, o que representa um crescimento diante de 2021, quando foram vendidas 33,1 mil máquinas. Essa quantidade supera em 19,6% o melhor resultado obtido pelo segmento, em 2013, quando mais de 33,4 mil equipamentos foram comercializados.
O destaque da linha amarela fica por conta da alta nas vendas das pás carregadeiras (26%, com 10,2 mil unidades), das escavadeiras hidráulicas (24%, com 11,9 mil) e das retroescavadeiras (18%, com 9,3 mil). O Estudo da Sobratema aponta ainda um crescimento de 19% para as motoniveladoras e de 20% para os tratores de esteira. O índice negativo fica por conta dos caminhões fora de estrada, que sofreram uma redução de 53% nas unidades vendidas.
O resultado deste ano se deve ao aumento e à substituição de frota tanto das construtoras como das locadoras para atender as demandas nas áreas de infraestrutura, construção pesada, agronegócio, mineração e florestal.
Motivos de preocupação, em 2022, apontados pelas construtoras, locadoras e distribuidores:
- A alta dos juros, uma vez que a taxa Selic chegou a 13,75% ao ano;
- Paralisação de obras por falta de recursos, tanto do governo quanto da iniciativa privada;
- Retração de mercado, limitações de crescimento agravado pela guerra entre Ucrânia e Rússia, que gerou impactos na economia, na produção de bens estratégicos como gás, petróleo, grãos e fertilizantes, além da alta do dólar;
- Gestão do aumento de custo operacional da empresa, com corrosão de margem;
- Variação de preços de máquinas e equipamentos;
- Diminuição da confiança do consumidor pelo potencial risco de recessão no Brasil;
- Aumento da concorrência, novos players, falta de crédito para a compra de equipamentos.
As melhores oportunidades, em 2022, de acordo com as construtoras, locadoras e distribuidores:
- Crescimento da demanda de locação de máquinas e equipamentos no Brasil;
- Maior número de obras, graças ao aumento de investimento do Governo Federal, governadores e prefeitos na urbanização, infraestrutura e saneamento em 2022;
- Mais investimentos em máquinas e equipamentos, substituição de frota com financiamento diferenciado, como, por exemplo, a Selic mais spread de 1% ao ano;
- Investimentos de longo prazo dos investidores e novos players nas concessões da infraestrutura;
- Taxa de juros baixa, acessível e rápido acesso ao financiamento;
- Continuidade das obras de infraestrutura na construção leve e pesada;
- Aumento da mecanização e investimentos privados no mercado de construção leve pesado, no agronegócio mineração e entre outros;
- Mais investimentos em mineração e agregados como areia, cascalho, pedra britada, concreto reciclado ou aterro.
A percepção de mercados que estão liderando o crescimento de vendas, serviços e construção em 2022 pode ser analisada em três vertentes:
- Relevantes:
– Agronegócio e florestal: O PIB do setor agropecuário do Brasil deve crescer 10,9% em 2023, segundo projeção divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As exportações brasileiras cresceram 18,9% no acumulado até setembro de 2022, com destaque para as vendas do agronegócio, com alta de 32,2% no período.
– O setor de locação, mesmo com o aumento da taxa de juros, busca alternativas de investimentos, como novos entrantes e a demanda de setores como infraestrutura, mineração e agronegócio.
– No setor de construção pesada, a expectativa está nas concessões e nos investimentos do governo em urbanização, infraestrutura e outras áreas, assim como parcerias público-privadas no setor de infraestrutura, como barragens, estradas, portos, aeroportos e ferrovias.
- Estáveis:
– Mineração e agregados, com a expectativa que os preços do minério de ferro caiam 17% em 2023, após um declínio de 28% em 2022. As projeções de oferta e demanda a longo prazo apontam para uma persistente pressão de baixa nos preços do minério de ferro, segundo a Brasil Mineral. De acordo com o Ibram, o volume de produção deve se manter estável em 2022 e investimentos serão da ordem de US$ 41,3 bilhões para os próximos cinco anos.
– Saneamento Básico/Água, o novo Marco Legal do Saneamento já gerou mais de R$ 70 bilhões em investimentos, em 212 municípios. A expectativa é que o fluxo de investimentos continue relevante nos próximos anos.
– Construção leve, representando o setor de construção civil, tem perspectiva de crescimento em 2023, segundo o site Engenhariacivil.com.br. O aumento da mecanização do mercado de construção e a possível falta de investidores podem gerar retração nas vendas das máquinas e equipamentos, além da alta de juros.
- Menos relevantes:
– Governos Federal, Estadual e Municipal destinam os menores volumes de investimentos em infraestrutura,desde 1947 e devem cair mais, segundo a CNN.
– Energias hidrelétrica, eólica, solar, biomassa e fósseis entrarão em 2023 com investimento estimado de R$50 bilhões em novas linhas de transmissão, que serão licitadas até 2024. A expectativa é quadruplicar a capacidade de escoamento do Nordeste para o Sudeste em 2023, de acordo com o site poder360.com.br.
– Óleo e gás (petróleo) apresentam boas perspectivas, o setor de óleo e gás natural responde por 46% da oferta interna de energia do país. Para o período de 2023 a 2030, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) projeta para a exploração e produção o investimento de US$ 175 bilhões. A indústria continuará a desempenhar papel fundamental no suprimento das demandas de energia.
– Indústria em geral, com a falta de semicondutores, a alta de juros, problemas logísticos e a variação cambial, sofrerá com o declínio da produção, que ainda se encontra em patamar abaixo do nível observado antes da pandemia.
Venda de equipamentos da linha amarela
– Escavadeiras hidráulicas
De acordo com o Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção, o desempenho das escavadeiras hidráulicas bateu o recorde em 2022. A projeção para esse período era de 9.798 máquinas vendidas, entretanto, até novembro de 2022, foram vendidas 11966 escavadeiras, o que significa um aumento de 24% no volume de vendas.
Para 2023, a expectativa é de que o mercado cresça ao menos 4%, com as vendas alcançando o patamar de 12.473 máquinas. A previsão segue a tendência de crescimento, superando o desempenho de 2021, quando as vendas de escavadeiras hidráulicas tiveram aumento de 2%.
– Retroescavadeiras
Na categoria de retroescavadeiras, o resultado superou o desempenho das escavadeiras hidráulicas, com alta de 20% nas vendas, em comparação a 2021, com 7.903 máquinas comercializadas. Os órgãos governamentais foram os principais compradores desses equipamentos, que registraram, de janeiro a novembro de 2022, 9.320 vendas. O Estudo da Sobratema estima que essa categoria deverá crescer 3% em 2023, somando 9.600 equipamentos comercializados.
– “Minis”
O nicho de equipamentos “minis” teve comportamentos divergentes. Começando pelas miniescavadeiras, elas somaram uma alta de 16% nas vendas e, em 2022, fecham o ano com um crescimento de 10%. Até novembro foram vendidas 1.600 miniescavadeiras.
Para 2023, as miniescavadeiras manterão o ritmo de alta, com um crescimento de 6%, totalizando 1.600 equipamentos vendidos.
Já as minicarregadeiras (Skid Steers) sofreram, em 2022, uma queda de 5% nas vendas no primeiro semestre, mas se recuperaram no segundo, fechando o ano com 6% de aumento nas vendas. O Estudo estima que a categoria poderá fechar o ano com 1.192 minicarregadeiras comercializadas. Já para 2023, com o mercado aquecido, a expectativa dos consultores é que o setor cresça ao menos 1%, atingindo o patamar de vendas de 1.200 máquinas.
– Motoniveladoras
Segundo o Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção, a categoria de motoniveladoras teve um crescimento de 19% em 2022, com 3.032 máquinas comercializadas. A previsão para o próximo ano é que o volume de vendas aumente 3%.
– Rolos compactadores (acima de 10 toneladas)
O segmento de rolos compactadores foi o que sofreu a maior queda em 2021, em torno de 34% do volume de negócios esperado para o período. Em 2022, o mercado conseguiu um respiro, totalizando 1.111 máquinas vendidas até novembro, porém, cerca de 14% abaixo do esperado pelos estudiosos. Para 2023, especialistas esperam crescimento de 20% das vendas de rolos compactadores, com 1.400 equipamentos comercializados.
Resultados gerais
Até novembro de 2022 foram vendidas 28.221 máquinas da linha amarela (escavadeiras hidráulicas, retroescavadeiras, miniescavadeiras, motoniveladoras, rolos compactadores e minicarregadeiras), o que representa um crescimento de 21% em relação ao ano anterior. Em 2021, foram comercializadas 23.678 máquinas. De acordo com Miranda, a alta nas vendas de máquinas da linha amarela se deve, principalmente, ao aumento na comercialização das retroescavadeiras, pás-carregadeiras e escavadeiras hidráulicas, representando 79% do fluxo de vendas da linha amarela.
“Esse segmento manteve seu ritmo de crescimento em meio ao cenário econômico interno desafiador e ao panorama externo marcado pelas consequências do conflito entre Rússia e Ucrânia e pela desorganização da cadeia de suprimentos”, disse Miranda. O coordenador lembrou ainda que, neste ano, o tempo de espera para o recebimento de uma máquina importada chegou a durar meses.
Apesar de um certo otimismo para 2023, a mudança de governo no país causa apreensão entre os associados da Sobratema. Por isso, as expectativas para o mercado de máquinas para construção são conservadoras para 2023. O Estudo da Sobratema estima um viés de alta nas vendas, com crescimento médio de 4%, tanto para o segmento de máquinas da linha amarela como para todo o setor de equipamentos para construção.